sábado, 10 de julho de 2010

Voto: a perspectiva da compra




Corriqueiramente, em momentos eleitorais, observamos nos meios de comunicação uma corrida por análises de opinião pública sobre a intenção de voto para determinados candidatos, analistas comentando tais resultados, assim como comentários acerca das coligações e rumos tomados pelos partidos – essa é uma face bem conhecida de todos nós. Porém, chamo atenção para outro ponto – a compra do voto. Acho que a compra do voto, em particular, nesse período merece atenção, pois é o momento da concorrência eleitoral e como já observamos em muitos episódios para se eleger o candidato entra num jogo do “vale tudo”.


Porém, o intento é chamar atenção para quem “vende” o voto, ou seja, quem “vende” o voto no Brasil? Na maioria das vezes respondemos que para acabar com a compra do voto o Estado tem que ofertar uma educação de qualidade para os seus cidadãos, em particular, aos mais necessitados financeiramente. Trata-se, ainda, de destacar que esse discurso volta-se com mais freqüência para o Nordeste do Brasil. Contudo, os que vendem os votos são pobres, sem escolaridade e residem na maioria no Nordeste?


A resposta é negativa. Através de um survey o cientista político Bruno Spek publica em 2003, na revista Opinião Pública, o artigo “A compra de votos – uma aproximação empírica” em que chama atenção para o perfil de quem vende o voto no Brasil. O autor trata de analisar diversas variáveis, são elas: a renda, a escolaridade, o local onde mora (cidades populosas ou não), classe sócio econômica (classe A, B, C, D e E), por sexo, faixa etária e por região (Norte/Centro-Oeste, Nordeste, Sudeste e Sul). É importante destacar que Spek chama atenção para o modos operandi da compra do voto, no seu artigo ele classifica as formas de comprar o voto, quais sejam: a) oferta do voto por favor administrativo, oferta do voto por dinheiro e ambas modalidades.


Aqui nos deteremos em observar o seguinte juízo de valor: quem vende o voto é pobre, sem escolaridade e na maioria reside no Nordeste do Brasil. Primeiro, para determinar se é pobre ou rico Spek denomina variável renda (Até1 Salário Mínimo, de 1-2 SM, de 2-5 SM, de 5-10 SM, de 10-20 SM, acima de 20 SM). O resultado demonstra que:



Percentualmente, observamos que o juízo de valor acerca do pobre se faz inválido quando testado empiricamente. Podemos identificar quem figura com um maior percentual é classe que recebe de 5-10 salários mínimos, perfazendo um total de 13,3%. Constata-se, através desse resultado, que a diferença entre aqueles que recebem até 1 salário mínimo para aqueles que recebem entre 10-20 salários mínimos é pequena, que nos leva a concluir que tanto ricos quanto pobres vendem o seu voto.

Cabe ainda fazer a seguinte indagação: como o pobre e o rico vendem o seu voto? Podemos observar que a troca do voto se faz maior por oferta de favor administrativo do que por oferta de dinheiro e que essa modalidade atinge tanto a maioria dos que recebem até 1 salário mínimo como aqueles que recebem acima de 20 salários mínimos.


A outra variável a ser observada é a escolaridade, vejamos:





Na variável escolaridade notamos que o maior índice da venda do voto encontra-se naqueles que possuem o colegial (ensino médio) perfazendo um total de 13,9%. Observamos que se compararmos os aqueles que têm escolaridade incompleta e aqueles que têm o nível superior podemos observar que o nível superior vende mais o voto do que o nível incompleto. Constatamos, assim, que a venda de voto é objeto tanto do nível menor quanto maior de escolaridade. Identificamos, ainda, que o maior forma de venda ainda é a oferta por favor administrativo.

E onde essas pessoas se encontram?



Percentualmente, a Região Norte/Centro-Oeste figura como o lugar que mais reside aqueles que vendem o voto que é de 13,2% por oferta de dinheiro. Mas ao comparar as Regiões Nordeste e Sul observamos que a diferença é pequena – de 0,5%.


Para concluir, os resultados que demonstram as médias nas tabelas ressaltam que o Brasil como um todo tem parcelas consideráveis da venda do voto, que tanto o pobre quanto o rico, tanto o de escolaridade incompleta, quanto o de escolaridade superior vendem o seu voto de forma semelhante. Observamos, ainda, que a principal fonte de venda do voto é por uma troca de favor administrativo. Contudo, o juízo de valor de quem vende o voto é o pobre, pouco escolarizado e residente no Nordeste do Brasil não passa pelo crivo da pesquisa empírica da ciência política.

2 comentários:

  1. Muito interessante sua postagem e torna-se ainda mais importante pelo fato de estarmos em período eleitoral."Voto não tem preço, tem consequência".
    Natássia

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